Minha opinião (sem spoilers) sobre os livros de Duna
- Alice Castro
- 11 de mai. de 2022
- 5 min de leitura
Atualizado: 23 de dez. de 2023

Poucos meses atrás, eu tive a oportunidade de terminar de ler os seis livros originais da saga Duna, escritos pelo autor e jornalista norte-americano Frank Herbert. A história é uma das ficções científicas mais vendidas de todos os tempos e já foi premiada pela crítica, sendo comparada com frequência a outro clássico muito popular: Senhor dos Anéis.
Apesar de ser fã do gênero, eu tenho que admitir que só descobri a existência de Duna quando o filme mais recente, lançado em 2021, começou a ser divulgado, e os livros que o inspiraram (o primeiro foi publicado em 1965) voltaram a ganhar destaque nas livrarias e nos aplicativos de vendas. Foi nesse momento do auge do marketing que eu ganhei a primeira trilogia de presente (deixo aqui um agradecimento a todos os patrocinadores da minha estante s2) e, como era de se esperar depois de tanto merchan e frisson, as minhas expectativas para conhecer o universo tão adorado criado por Frank Herbert estavam altíssimas.
O livro já começa intrigante, fazendo questão de mostrar que você não está entrando em um território familiar. O autor não deixa a desejar em termos de originalidade, criando planetas fascinantes com os seus respectivos povos e culturas, apresentando novas tecnologias visionárias, ainda mais considerando a época em que Herbert escreveu a obra, e estruturando um pano de fundo político complexo, com vários grupos de poder que possuem diferentes interesses entrando em choque e dando movimento à narrativa.
Todo o universo é fascinante e aprofundado, o que colabora muito para enriquecer o cenário do livro e ajudar o leitor a imergir na história, mesmo que de início ele possa se sentir um pouco perdido, precisando insistir na leitura para se situar melhor e encontrar algumas respostas. Mas, com o passar das páginas, tudo fica mais claro, e logo estamos familiarizados com os termos desconhecidos, com a nova realidade e com os personagens que a povoam.
Ao lado do protagonista, Paul Atreides, conhecemos Duna e sua história marcante. O planeta é coberto em grande parte por um deserto imenso, lar de vermes de areia letais, e sua população é castigada por um clima praticamente inóspito. Apesar de não ser um lugar nada atraente à primeira vista, muitos grupos e famílias poderosas disputam o controle do território porque, abaixo das dunas de areia, existem reservas valiosas de especiaria, a droga mais consumida do Império, que só pode ser encontrada em Duna.
A especiaria, além de oferecer a vantagem de prolongar a vida de seus usuários, também permite que os navegadores espaciais consigam prever o futuro em certa medida para fazer viagens interestelares com saltos sem causar acidentes. Nesse contexto, é fácil entender porque tudo gira em torno desse planeta e dessa droga insubstituível, que além de tudo causa uma forte dependência em quem a ingere.
A exploração da especiaria é extremamente lucrativa para aqueles que detêm o controle de Duna, mas não é uma tarefa fácil. Para que as máquinas consigam extrair a droga, elas precisam invadir o território dos vermes de areia, que muitas vezes destroem todo o equipamento, material caro e difícil de obter. Além disso, os fremen, guerreiros nascidos em Duna que habitam o deserto, também sabotam o trabalho como forma de resistir à exploração indiscriminada de seu planeta.
Por muitos anos, os Harkonnen, uma das famílias mais cruéis e poderosas do Império, assumiram o controle da produção de especiaria em Duna, mas problemas com os fremen e com as entregas da droga, que por vezes atrasavam ou não correspondiam aos números esperados, levaram o Imperador a transferir o planeta para os Atreides, a família do nosso protagonista. Como era de se esperar, os Harkonnen não ficam satisfeitos com a mudança e passam a encarar os Atreides como inimigos, o que dá início a uma guerra de grandes proporções que abala o equilíbrio frágil de poder do Império.
Os próximos livros vão tratar das consequências dessa guerra, apresentando melhor os outros jogadores que tentam dominar o tabuleiro, como as Bene Gesserit, uma sociedade de mulheres com poderes excepcionais de controle sobre a própria mente e corpo; os Tleilaxu, que dominam a tecnologia da produção de gholas (espécies de clones de pessoas que já morreram que “renascem” conservando as memórias de suas vidas passadas); e a Guilda Espacial, que detém o monopólio de transporte interestelar.
Na minha opinião, a história de Duna e dos fremen, a criatividade com que o autor apresenta o universo e os conflitos políticos gerados em busca do monopólio da produção de especiaria são os pontos altos dos livros. Frank Herbert também escreve diálogos intrincados, cheios de pistas, blefes e outras informações subentendidas que provocam o leitor a pensar e a prestar muita atenção a cada gesto e palavra à procura do seu verdadeiro significado.
Por outro lado, as cenas de ação claramente não são o forte do autor e conflitos armados e guerras relevantes muitas vezes não recebem o destaque que mereciam, sendo narrados de forma tão rápida e superficial que é quase difícil determinar o que de fato aconteceu (se você já assistiu Game of Thrones até o final, provavelmente passou raiva com aquela cena escura da batalha com os mortos vivos. Alguns conflitos de Duna são apresentados mais ou menos desse jeito).
Os dilemas morais e existenciais dos personagens também tinham um potencial incrível a ser explorado, mas, tristemente, eu não consegui me conectar especialmente com nenhum dos protagonistas. Para falar a verdade, eu estava mais interessada em como os conflitos políticos iriam se desenrolar do que em descobrir como o fulano ou a ciclana iam acabar no final da história.
Para alguém que gosta muito de um personagem bem desenvolvido, achei os protagonistas de Duna muito fracos, incapazes de me convencer a me importar o suficiente com suas vidas e problemas. O segundo livro da saga foi o que mais me prendeu em termos de desenvolvimento de personagem, mas de forma geral a história não favorece o apego do leitor aos personagens. Acredito que a mudança de protagonista ao longo dos livros, e até mesmo dentro de um mesmo livro, seja um dos fatores que contribui para esse sentimento de indiferença. É mais fácil torcermos por um personagem quando temos mais tempo para acompanhar sua trajetória, e mais motivos para nos importar com ela.
Para finalizar, achei a experiência da leitura divertida de forma geral, principalmente porque a visão de Frank Herbert do universo que ele criou é muito rica e inspiradora, sendo capaz de prender a atenção mesmo quando os personagens não são tão carismáticos. Eu recomendo a leitura dos dois primeiros livros, que acredito serem os melhores da série. Dali em diante, preciso admitir que achei a história um pouco repetitiva e cansativa. Mas, se você é fã de ficção científica e gosta de ideias megalomaníacas, essa pode ser a saga perfeita para você.
Se você já leu Duna e concorda ou discorda da minha opinião, fique à vontade para comentar sobre a sua experiência com os livros aqui embaixo. Obrigada pela leitura e até a próxima!
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