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Microcontos

  • Foto do escritor: Alice Castro
    Alice Castro
  • 21 de set. de 2024
  • 2 min de leitura

Foto de Jens Frank Jakob na Unsplash

Participei de um concurso de microcontos. Logo eu, que não consigo escrever um bilhete sem passar do ponto e começar uma carta. Mas o prêmio era atraente e escritores não podem esnobar oportunidades, então fiz um esforço para encolher minhas ideias. Pensei que um microconto deveria ocupar mais ou menos meia página. Desafiador, mas daria para trabalhar com isso. Descobri que a extensão máxima do microconto era de 300 caracteres (contando espaços entre palavras). O que equivale a mais ou menos quatro linhas de texto. Quatro linhas para escrever uma narrativa. Pensei que seria impossível, mas depois de muito sofrimento, suor e lágrimas, consegui chegar a um resultado razoável. Enviei os textos para o concurso. Dedos cruzados.

Ganhei… experiência. Não consegui me classificar entre os primeiros colocados. Tudo bem, como dizem os jogadores de futebol depois das derrotas: agora é levantar a cabeça e bola pra frente. Meus textos não foram os melhores, mas eu acabei me apegando a alguns deles. Como prêmio de consolação, ainda posso compartilhar meus microcontos com vocês, queridos leitores e leitoras da Bibliosfera, que sempre me motivam a continuar escrevendo. Se gostarem de algum, não deixem de massagear o meu ego, pois ele ainda está um pouco ferido (música dramática). Obrigada pela compreensão.


Telefone sem fio

Raul voltou para casa com o rosto inchado. O porteiro comentou que ele tinha tomado uma surra. A vizinha espalhou que ele estava se envolvendo com drogas. No prédio ao lado, descobriram que ele era traficante. Na quadra, acabou virando chefe de uma facção criminosa. Raul tinha extraído o siso.

 

A vida diante dos olhos

O pé errou o degrau e o coração saltou uma batida. Reviu os colegas de escola cantando parabéns, os olhos do primeiro amor, o pai ensinando-o a tocar violão, a noite estrelada cobrindo o lago escuro, a esposa ninando o filho. Agarrou o corrimão, salvou-se da queda. Não foi dessa vez. Vida que segue.


Vazio

Abriu a geladeira. Não quis comer nada. Desbloqueou o celular. Sem novidades. Entrou no quarto. O que ia fazer ali mesmo? Começou um relacionamento. Não sabia o que sentia pela outra pessoa. Passou horas escolhendo um filme no catálogo. Não assistiu nenhum. Continuava procurando, sem saber o quê.


Microcosmo

Lá vai o pequeno homem na imensa Terra, pensando nos pequenos problemas de sua pequena vida. Hoje, ele sente-se grande porque recebeu um sorriso da mulher que ama. Amanhã, vai se perceber insignificante ao visitar a mãe no hospital. Esbarra em um desconhecido. Altera o rumo de outro microcosmo.


Guerra e paz

Ele deixou a tampa do vaso levantada. Ela não desligou a TV. Ele largou a toalha molhada no sofá. Ela mudou os sapatos dele de lugar. Ele não reparou no vestido dela. Ela não desceu com o cachorro. Ele planejou um jantar romântico. Ela elogiou a comida e colocou a música favorita dele. Dançaram.


Mudança de planos

Com sete anos, imaginava-se tocando piano aos 15, formado aos 20, dono da casa própria aos 25, casado e pai de família aos 30. Desistiu das aulas de violão com 17, trocou de curso e se formou com 26, alugou uma quitinete com 32 e achou que tinha encontrado o amor com 37, mas ela gostava de outro.


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