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Exercício de escrita #2: Pessoas de Papel

  • Foto do escritor: Alice Castro
    Alice Castro
  • 15 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura

Cada um tem uma técnica para encontrar novas histórias para escrever, desenhar ou filmar. Alguns procuram inspiração em livros, situações da vida real, notícias, músicas ou filmes para criar suas próprias narrativas. No meu caso, as ideias normalmente surgem quando estou prestes a ir dormir, ou apenas entediada.

Elas podem aparecer subitamente, no meio de vários pensamentos desconexos, na forma de uma frase, que com frequência começa com “e se” (e se aquele túnel desabasse?), ou na forma de uma imagem muito simples, como um carro quebrado e vazio em um dia de chuva, por exemplo. Então eu começo a tentar explicar aquela visão aleatória. Como o carro quebrou? Onde está o motorista? Que lugar é esse? Aos poucos, a cena vai ficando mais vívida na minha mente e, em alguns casos, esse exercício inicialmente despretensioso pode se transformar em uma história que eu gostaria de escrever.

Apesar de esse método sempre ter sido muito útil para mim, ele normalmente me leva a começar a criar a história usando como base uma situação ou contexto. Eu nunca tinha parado para pensar em como essa ordem poderia prejudicar a construção dos meus personagens até ler The Art of Character, do autor David Corbett. Esse livro é um ótimo guia para te ajudar a criar personagens complexos, profundos e tridimensionais e eu aprendi muitas coisas valiosas com ele, inclusive o que estava fazendo de errado (rindo de nervoso). Nas primeiras páginas, já levei um tapa na cara:

Pode ser problemático derivar personagens da sua história, porque eles correm o risco de se tornarem bidimensionais, fantoches do enredo. Eles tendem a existir apenas para servir à narrativa, interpretando um papel em vez de agirem como agentes independentes que têm necessidades, medos, afetos e preocupações fora da história.

(The Art of Character, David Corbett - tradução livre)


Essa visão dos fantoches me aterrorizou. Eu não queria de nenhuma forma que meus personagens se parecessem com bonecos ocos controlados por uma mão invisível, atirados de um lado para o outro da narrativa sem nenhuma personalidade e livre arbítrio para mudarem o rumo da história. Foi a partir daí que eu comecei a me dedicar muito mais ao planejamento dos personagens antes de escrever.

Isso não quer dizer que eu não possa mais ter ideias de histórias usando o método que sempre funcionou para mim, mas agora eu invisto tanto (ou mais) tempo na criação de personagens quanto eu investia pensando na narrativa, para que meus protagonistas também tenham um impacto no enredo. E devo dizer que isso faz uma grande diferença no resultado final.

Por isso, hoje vim propor um exercício para praticarmos a criação de personagens mais aprofundados. Personagens que não são apenas fantoches, mas poderiam ser pessoas reais se saíssem do papel. E que forma melhor de fazer isso do que tomando como exemplo aquelas pessoas mais próximas de nós? Sabemos de cor suas manias, medos, qualidades, inconsistências, vícios e forças. Podemos usar isso a nosso favor para aprender a criar personagens mais realistas e dinâmicos.

Então, para sexta-feira, o exercício é o seguinte: apresente, em no máximo três páginas de texto, uma pessoa que você conhece muito bem como se fosse um personagem. Pode ser um amigo, membro da família ou namorado. Antes de começar, faça uma lista de todas as características mais marcantes dessa pessoa, uma breve biografia de sua vida, e selecione as informações que você considera mais importantes para compor o personagem na hora de escrever.

Eu já escolhi a minha cobaia e vou fazer o exercício também. Que os jogos comecem!


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