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Eu finalmente li Sob a Redoma, do Stephen King

  • Foto do escritor: Alice Castro
    Alice Castro
  • 14 de set. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de jan. de 2024


Photo by Jake Weirick on Unsplash

Sob a Redoma, ou Under the Dome, é um dos livros mais conhecidos do também muito conhecido Stephen King e fazia um tempo considerável que ele estava na minha lista de futuras leituras, esperando pacientemente pela sua vez de ser apreciado. Por isso, quando minha irmã me mandou fotos de alguns livros usados que um aluno estava vendendo na entrada da universidade, eu não precisei de muito convencimento para gastar minhas (parcas) economias do mês e pedir que ela trouxesse o monstrinho para mim.

O livro tem mais de mil páginas e, só de segurá-lo pela primeira vez, eu logo percebi que estava prestes a embarcar em uma jornada. Eu cruzei os dedos para que a viagem fosse proveitosa, porque eu não costumo abandonar o barco no meio do caminho, mesmo quando ele está afundando, e não queria ter que nadar durante dias para chegar ao final daquele calhamaço e acabar morrendo na praia. Boas notícias: mês passado eu terminei a leitura, e aproveitei cada página dela.

Fiquei ansiosa para escrever uma resenha assim que fechei o livro e hoje cá estou para compartilhar minha experiência. Se você ainda não leu Sob a Redoma e pretende fazer isso em algum momento, não se preocupe, eu não escondi spoilers no texto. Boa leitura!



Como o título sugere, Sob a Redoma conta a história de uma cidade pequena no interior dos Estados Unidos que, de uma hora para a outra, se vê cercada por uma muralha invisível que a isola completamente do mundo exterior. O surgimento inesperado desse estranho fenômeno provoca uma série de acidentes, ferimentos e mortes e rapidamente chama a atenção não só da população local, como das autoridades do país, que logo se mobilizam para ajudar a libertar os pobres desafortunados que ficaram encurralados debaixo da redoma.

Enquanto o governo dos Estados Unidos tenta entender o que é a redoma e o que pode ter provocado a sua aparição, somos apresentados aos intrigantes habitantes de Chester Mill, que trazem uma profundidade ainda maior para o conflito inicial que o Stephen King criou. Ao longo dos capítulos, o autor faz uma espécie de revezamento dos personagens, passando o bastão de um para o outro para trazer ângulos diferentes à história.

Acompanhamos os dramas de um cozinheiro que abandonou uma carreira promissora no serviço militar, uma jornalista que é responsável pelo jornal local, o principal médico do hospital, os três líderes problemáticos da cidade, o chefe de polícia que na verdade não tem autoridade alguma, entre muitos outros. Cada personagem tem suas particularidades e interesses e oferece novas peças que nos ajudam a montar um quebra-cabeça complexo do todo que é Chester Mill. Observando o quadro, entendemos como funciona a cidade, quem detém o poder, quem esconde segredos e como tudo isso pode se revelar explosivo se a situação de crise se estender por muito mais tempo.

A alternância de pontos de vista faz toda a diferença no ritmo da narrativa, que é carregada de suspense. Ficamos ansiosos para virar as páginas mais rápido e temos poucas pausas para recuperar o fôlego entre uma descoberta e outra. É quase impossível encontrar um ponto para parar a leitura quando a vida real chama e nos lembra de que não podemos passar o dia inteiro vivendo de ficção. Infelizmente. (suspiro)

Na minha opinião, os pontos altos da escrita de Stephen King sempre foram a criação de personagens cativantes, as descrições vívidas de momentos de ação e suspense e, combinando tudo isso, a capacidade de criar um cenário e um clima que te transportam para dentro do livro. O autor teve espaço de sobra para ostentar todas essas habilidades em Sob a Redoma, e o resultado final é admirável.

O livro diverte, mas não deixa de provocar reflexões. Momentos de crise são ótimos para revelar o melhor (ou o pior) das pessoas e mostrar como a existência pacífica em comunidade, com todas as suas regras, explícitas e subentendidas, que levaram anos para serem desenvolvidas e implementadas, pode desabar em segundos no momento em que surge uma oportunidade de colocá-la à prova.

O mestre do terror não tenta nos assustar aqui com palhaços malignos, mortos vivos e assombrações. Stephen King, ao criar um confinamento imposto por uma redoma, explora temas muito mais reais, e por isso mesmo mais terríveis: a ganância, a sede e o abuso de poder, o egoísmo e a crueldade humana. Enquanto para alguns a barreira invisível representa uma espécie de prisão, para outros ela é sinônimo de libertação. De repente, os lobos já não precisam mais tentar esconder seu lado selvagem com uma pele de cordeiro e percebem que estão completamente soltos para aterrorizar o rebanho.


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