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Autora para ler: Margaret Atwood

  • Foto do escritor: Alice Castro
    Alice Castro
  • 22 de mar. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 13 de out. de 2023



Depois do sucesso do livro O Conto da Aia, que vendeu milhões de cópias ao redor do mundo e ganhou uma adaptação para série de TV produzida pelo Hulu, Margaret Atwood dificilmente precisa de apresentações ou recomendações. Ainda assim, ela é uma das minhas escritoras favoritas, tão habilidosa com as palavras que seus livros são verdadeiras aulas de escrita criativa, e um dos meus objetivos com este texto é reforçar que existem muitas outras obras da autora canadense que merecem destaque além do best seller O Conto da Aia. Afinal, ela tem 82 anos e começou a escrever aos seis, então vocês podem imaginar quanta coisa ela já produziu nesse meio tempo.

Eu já li oito livros da Margaret, e cada um deles me deixou com mais vontade de ler o próximo. Comecei pelo Conto da Aia e me apaixonei tanto pelo seu estilo e pelas suas histórias que me atirei de cabeça em tudo que encontrei com o seu nome na capa. Li Vulgo Grace, O Assassino Cego, Os Testamentos, a trilogia distópica MaddAddão e o mais recente, que terminei há poucos dias, A Noiva Ladra. Eu não vou me dar ao trabalho de tentar escolher um favorito, porque todos são ótimos e qualquer uma das opções acima é um bom lugar para começar se você ainda não leu nada da autora. Eu garanto que vai valer a pena abrir um espacinho na sua lista de leituras para essas obras.

Margaret Atwood é mestra em combinar personagens cativantes com narrativas que te prendem desde o primeiro capítulo até a última página, cheias de reviravoltas e revelações inesperadas. As cenas e descrições da autora são tão fortes, vívidas e detalhadas que vão continuar na sua cabeça meses depois de terminada a leitura. Atwood também domina a técnica de mostrar sem contar, o que quer dizer que ela não entrega tudo de bandeja para o leitor. Ela te permite descobrir as informações por conta própria, desvendando um mistério de cada vez. Ao longo da narrativa, a escritora revela a maior parte do que precisamos saber por meio de cenas que mostram como a protagonista agiu em determinada situação ou o que ela disse (ou deixou de dizer) em uma conversa. Assim, desenvolvemos nossa própria opinião sobre a personagem, sem que a autora nos diga diretamente o que devemos pensar sobre ela. Para ficar mais claro, trouxe um exemplo de como Atwood faz isso no livro A Noiva Ladra:

O sofá da sala é um sofá-cama, caso os tios recebam visitantes, porque Karen está ocupando o quarto que costumava ser o “quarto das visitas”. Esse quarto ainda é chamado de quarto das visitas, mesmo que Karen esteja vivendo nele. (A Noiva Ladra, Margaret Atwood)

O trecho narra parte da infância de Karen, que vai morar com os tios depois que sua mãe fica doente. O parágrafo é breve, mas nos ajuda a concluir muitas coisas. Logo percebemos que os tios não estão se esforçando muito para que Karen sinta-se em casa, já que ela ainda não recebeu um quarto para chamar de seu. Eles se referem ao quarto da sobrinha como “o quarto de visitas” mesmo depois da chegada da criança, agindo como se Karen não estivesse ali de forma permanente e colocando-a na mesma categoria de uma visita não muito desejada. Descobrimos tudo isso analisando a situação que nos foi apresentada, sem que a autora precisasse escrever: Karen não se sentia acolhida pelos tios na nova casa. Isso, meus amigos, é arte.

Outra coisa que me atraiu nos livros da Margaret é que, quando suas histórias não são narradas por mulheres protagonistas (o que é muito raro), elas são abençoadas com presenças femininas marcantes, que mudam completamente o rumo da história, têm muita personalidade e não estão ali simplesmente como uma espécie de plano de fundo para ajudar o protagonista masculino a chegar aonde ele precisa. Elas têm objetivos próprios, problemas, um passado, um futuro. São realistas e profundas, não idealizadas e rasas.

É evidente que a autora dedica muito tempo concebendo e escrevendo suas personagens femininas, tenham elas um papel central na narrativa ou não. As mulheres que Atwood cria são complexas e cheias de características marcantes que as tornam únicas. Elas estão muito longe de serem perfeitas, deusas esculturais ou guerreiras imbatíveis, e é isso que as torna tão interessantes.

O livro A Noiva Ladra é narrado por três protagonistas femininas, completamente diferentes uma da outra, mas igualmente fascinantes para quem está lendo. Tony é uma historiadora que estuda guerras, Charis é uma professora de ioga e Roz é presidente de uma grande empresa. Vulgo Grace apresenta uma criada que é acusada de assassinar seus patrões. Laura e Íris, da obra O Assassino Cego, são irmãs com gênios fortes e opostos que sofrem com problemas de convívio. Cada uma tem uma forma de pensar, uma forma de falar e uma forma de agir que a torna inconfundível e faz com que você tenha vontade de conhecê-la para além da superfície.

Nem todas as personagens de Atwood são um símbolo da revolução, como June em O Conto da Aia, mas nem por isso suas batalhas e conflitos internos são menos relevantes. E por mais diferentes que elas sejam de você, mais cedo ou mais tarde, de uma forma ou de outra, vão acabar te conquistando, assim como a escritora que as criou.


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