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Autor para conhecer: Anton Tchekhov

  • Foto do escritor: Alice Castro
    Alice Castro
  • 23 de fev. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 26 de set. de 2023


Retrato de Anton Tchekhov, obra de Osip Braz (1872–1936).

No ano passado, estava lendo um livro sobre escrita criativa e esbarrei várias vezes no nome do autor russo Anton Tchekhov, apontado como referência para construir narrativas e personagens. Na época, eu não fazia ideia de quem era esse escritor, mas as recomendações me deixaram curiosa para ler suas obras. Acabei comprando dois livros para descobrir o que ele fazia de tão certo:

  • A Dama do Cachorrinho e outros contos, da Editora 34.

  • Sem Trama e Sem Final — Anton Tchekhov — 99 conselhos de escrita, da editora Martins Fontes.

Escolhi começar pelos contos e não demorei a entender porque as histórias do autor conquistaram tantos admiradores ao longo dos anos.

Tchekhov (1860–1904) era muito habilidoso na criação de narrativas curtas, simples e diretas, estilo que hoje em dia se popularizou e ganhou adeptos entre os críticos literários, mas era considerado uma transgressão na sua época. Ele foi um dos primeiros escritores que abriu espaço para uma literatura mais próxima das pessoas, tanto pelos temas que abordava como por ter adotado uma linguagem menos rebuscada em suas obras.

O autor podia até escrever sobre “a vidinha de todos os dias”, como ele mesmo afirmava, mas suas histórias, aparentemente corriqueiras, abrem portas para questões muito mais complexas, envolvendo a existência humana e o funcionamento da sociedade. As frases curtas e cheias de significado de seus textos nos acertam em cheio, criando pequenas rachaduras em nossa cabeça que se expandem e, de repente, colocam tudo abaixo. Em meio aos escombros, acabamos encontrando muitas perguntas e reflexões que permaneceram de pé.

Em poucas linhas e com palavras muito bem escolhidas, Tchekhov era capaz de compor descrições extremamente realistas, que traziam profundidade para os seus personagens e para as situações que retratava. Seus protagonistas podem ser de uma cultura muito diferente da nossa, mas sofrem com problemas, medos e dúvidas compartilhados por todos os seres humanos, o que gera uma identificação imediata em quem está lendo.

Tchekhov também sabia explorar a ironia de forma sutil, usando-a como ferramenta para apontar algumas incoerências da sociedade. O autor nos ajuda a ter consciência das nossas hipocrisias sem esfregá-las na nossa cara. Ele defendia que o papel da literatura não era “passar sermão”, mas deixar que o leitor fizesse seu próprio julgamento. Em suas palavras:

“O homem torna-se melhor quando lhe mostramos como ele é”.

Conhecer o trabalho de Tchekhov foi uma experiência muito positiva e, ao final do livro de contos, percebi que também tinha me transformado em uma admiradora do escritor. Para finalizar, trouxe algumas lições que podemos aprender com o autor no livro Sem Trama e Sem Final, que complementou muito bem a leitura dos contos de Tchekhov ao reunir conselhos de escrita presentes em suas cartas. Trago aqui um resumo dos pontos que mais me marcaram:

Brevidade

Tchekhov defendia que não devemos ter medo de cortar trechos do texto, reescrevendo muitas vezes e eliminando adjetivos e advérbios supérfluos. Nas descrições, não retocar demais, focar em detalhes significativos que vão ajudar o leitor a enxergar a cena completa.

Sabedoria

Só escreva sobre temas que você conhece bem, ou seu trabalho corre o risco de não retratar a realidade, apenas uma perspectiva distorcida e falha, possivelmente preconceituosa, dela.

Não julgue

Quando criar seus personagens, descreva-os como são, sem julgar ou condenar os comportamentos e pensamentos deles. O mesmo serve para a sociedade. Lembre-se: escrever sem passar sermão, tirar conclusões é papel do leitor.

A vida como ela é

Para Tchekhov, era mais importante retratar de forma clara e objetiva uma questão ou problema do que oferecer respostas ou apresentar possíveis soluções ao leitor.

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